23 de out. de 2017

Conto erótico "Uma terça diferente do resto"

Uma terça diferente do resto

Ela entra, arremessa a bolsa no banco de trás, abre o zíper da minha calça social e saca meu cacete ainda mole, desprevenido. Não me diz nada. Não me conta por que resolveu trocar – por algo bem mais gostoso, vale ressaltar – o selinho idêntico e quase robótico que me dá há anos, desde o dia em que comecei a buscá-la no banco em que trabalha. Apenas sorri ao notar que meu pau já começou a inchar na mão dela. Mostra os dentes porque conhece – e ama – o poder que exerce sobre mim.

“O que está esperando para ligar a porra do carro?”, ela pergunta.
“Nada.”
“Então cala a boca e dirige!”

Dou partida, giro o volante à esquerda e acelero. Saio da vaga sem dar seta, cantando o pneu. Por um triz não arregaço um motoqueiro que desvia e, em seguida, mostra-me o dedo do meio. Em algum lugar entre a Paulista e a Rebouças, no primeiro farol fechado que pegamos, ela solta o cinto de segurança, ajoelha-se sobre o banco de passageiros e, sem se importar com a bundona que deixa empinada em direção à janela, saliva sobre a cabeça do meu pau.
“Não é bem babado que você gosta?”, indaga enquanto o líquido recém-derramado desce minha vara em direção à base. “Eu sei que é!”, afirma transbordando presunção, antes de abocanhar a parte de mim que cresce e faz a alegria dos muitos trabalhadores que se espremem num ônibus que acabou de parar bem ao nosso lado. Mas ela não está nem aí para o flagra. Não dá a mínima para a saia que subiu o bastante para deixar a calcinha de renda à mostra. Pelo contrário: parece gostar de se escancarar, e isso me excita. Além da vara que envolve com os lábios e endurece mais a cada sugada, parece decidida a enrijecer também os seres que se tornarem voyers por acaso, quer virar matéria-prima para a punheta de gente que não poderá cravar nela o indicador todo, como estou fazendo.

“No cu agora!”, ela pede. Ordena, para ser mais preciso. E volta a (tentar) me engolir de um jeito barulhento, quase esganado, até não sobrar mais espaço na boca, como se estivesse tentando extrair de mim alguma anestesia, qualquer alívio imediato à imutabilidade de tudo que a tem corroído e feito com que se sinta constantemente engasgada.
Aproveito-me do viscoso e escorregadio líquido que escorre da bocetinha para penetrar no orifício menor, onde ela sempre me quer enterrado. Entro aos poucos, na manha. O motor berra me pedindo para mudar de marcha, para sair da primeira. Não tô nem aí para o sofrimento da embreagem. A primeira falange já sumiu. A segunda, a mais grossa, porém… Ela expira forte pelas narinas, de uma vez, o que me faz parar um pouco a penetração. “Continua, caralho!”. Ela me quer mais dentro, socado, independente da dor que não sabe nem quer dissimular. Deseja-me tanto – e tão dentro – que estende o braço para trás e agarra com firmeza o pulso da mão que a penetra, forçando-me a continuar a invadi-la. “Tá com medo do quê?”. Meto tudo que posso, até o começo do meu anel de caveira. Ignoro a dor no ombro que cresce enquanto ela geme com meu pau na boca. Barulho de bicho, quase relinche. Sinto o ar quente que sai dela. Love me like a reptile, do Motörhead, na Kiss FM. Coincidência total, não acha? Afinal, do jeito que estamos, parecemos duas serpentes esfomeadas tentando se comer simultaneamente: eu começando pelo rabo dela e ela pela minha cabeça.
“Vira aqui!”, ela grita após me tirar da boca, notando a entrada para a Marginal se aproximando rápido. Berra e, logo depois, esfrega meu caralho na face lambuzada. Entro com tudo, cruzo três pistas de um jeito imprudente que faz o dono de um Corolla meter a mão na buzina. Foda-se! No momento, só quero fodê-la, só consigo agir em prol da carne que clama por mais uma dose de tesão. Estou possuído pelo meu eu verdadeiro, pela sede mais sincera do corpo, por alguém que vivo escondendo sob sorrisos comportados e trajes engomados que, de acordo com a Você S/A, transmitem confiança e estabilidade emocional.

“Vira a bundinha pra mim, vira?”, peço. Tô morrendo de vontade de chupá-la.


“Só quando chegarmos lá!”
“Chegarmos onde?”
“Sabe o motel em que me comeu pela primeira vez?”
“Claro!”
“Quero que vá para lá.”
“Mas…”
“Sem perguntas! Ou não vai comer esse cuzinho hoje!”

Ouvi-la falando “cuzinho” me dá uma vontade violenta de gozar, o cacete chega a palpitar.
“Tira da boca só um pouquinho, por favor!”, eu peço.
Ela não me obedece: com o indicador faz sinal de negativo enquanto, com a língua, percorre-me do meu Chuí ao Oiapoque. Então, para não esporrar antes da hora, imagino uma longa fileira de crianças carbonizadas. Gente de cinco anos, no máximo. Pele retorcida e cor de bacon. Funciona…
“No momento só temos a Presidencial, senhor”, informa a atendente do motel depois de eu ter pedido a suíte Mansões. Meu pau ainda está fora da calça, coberto por um casaco de moletom que mora no meu carro e nunca foi lavado. “Pode ser!”, respondo sem me importar com o preço da pernoite que vai ferrar com a fatura deste mês, e enquanto a atendente recebe nossos documentos sinto uma mão começando a me masturbar. Tento tirá-la. Ela aumenta o ritmo. O moletom sobe e desce. A atendente informa que o quarto já está sendo arrumado e que logo vai liberá-lo. Acho que percebeu o que está rolando por baixo do pano, tem cara de quem já fez e viu de tudo; e isso só me deixa com mais tesão.
“Quer mostrar o pau pra ela, não quer?”, a Mari me pergunta, já ciente da resposta. Não digo nada, mas a mordida nos lábios que dou me entrega. “Então mostra, seu puto!”, e, imediatamente, arranca o moletom com tudo, igualzinho àqueles garçons que tiram a toalha de mesa sem derrubar as taças; despe-me e volta a se empenhar na punheta, ainda mais veloz, como se quisesse me fazer entrar em erupção em frente à moça de cabelo preso e batom roxo. “Para só um pouquinho”. Mas ela não dá a mínima para meu pedido, continua batendo para mim, deslizando em meu pau ainda babado. A atendente então volta a aparecer na janelinha, quer me dizer algo.
“Abre o vidro, ué! O que acha que ela vai fazer?”
“Para com iss…”
“Abre, porra!”, apertando meu pau de um jeito que deixa a cabeça imensa. “Tá com medo de mostrá-lo para ela por quê?”

Abro só uma frestinha, não mais de dois centímetros, e enquanto a atendente afirma que tiveram um “probleminha” na suíte Presidencial e me pergunta se posso esperar mais um pouco pela Mansões, volto a ser chupado.
“Pode ser”, eu respondo, com um tom de voz mais mole. Pela fresta noto que a atendente ainda me observa de rabo de olho. Começo a inspirar fundo e soltar o ar com tudo pela boca, escancarando meu estado de excitação.
“Goza na minha boca”, pede a Mari, olhando-me de baixo. E, em seguida, começa a bater meu pau na língua.

A atendente agora me encara pelo vão, olho no olho, apesar do Insulfilm negro parece saber – e gostar – de tudo que está acontecendo aqui dentro. Não devo ser o primeiro nem o último a chegar assim. Não sou mesmo.
“Vai, goza! Enche minha boca de porra!”, insiste a Mari.
A atendente não desvia o olhar do meu por nada. Não pisca. Aperto o volante com uma das mãos e, com o dorso da outra tapando a boca, sou invadido pela melhor sensação do mundo.
Apenas alguns segundos depois, como se estivesse apenas esperando pela minha explosão, a moça de lábios roxos me entrega a chave da suíte 35.

“Será que vai aguentar o resto da surpresa? Por que isso foi apenas o aperitivo!”, a Mari diz limpando, com a ponta do dedo, o pouco do meu desejo que não conseguiu engolir.

Texto do livro Entre o Soco e o Sopro

  Ricardo Coiro

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